Cacique que arrendou áreas indígenas tem bens bloqueados pela Justiça

A Justiça Federal de Mato Grosso determinou nesta quinta-feira (17/03) o bloqueio de bens do cacique Damião Paridzané, investigado pela Polícia Federal na Operação Res Capta, por suspeita de receber dinheiro em troca da concessão ilegal de áreas indígenas à fazendeiros.

A juíza da Vara Federal Cível e Criminal da Subseção Judiciária de Barra do Garças, Danila Gonçalves de Almeida, destacou que o sequestro de bens demonstram o recebimento de valores indevidos pelo arrendamento ilegal de áreas de terras localizadas na Terra Indígena Marãiwatsédé.

A juíza disse que entende que há indícios suficientes do recebimento de valores pelo cacique Damião.

“Razão pela qual, com fulcro nos artigos 125 a 132 do CPP, determino o bloqueio de todos os valores depositados nas contas vinculadas a Damião Paridzané”, disse na decisão.

Agora, será feito o rastreio de todos os valores pelo Sistema de Busca de Ativos do Poder Judiciário (Sisbanjud). Todos os valores acima de R$ 48.480,00, estima-se que o cacique teria recebido R$ 900 mil.

A magistrada também determinou a realização de audiência de custódia de Jussielson Gonçalves Silva, Gerard Maxmiliano Rodrigues de Souza e Enoque Bento de Souza presos na operação desta quinta-feira.

O cacique teve uma caminhonete SW4 apreendida na Operação Res Capta, que teria recebido em troca do arrendamento de terras. Damião também é suspeito de receber R$ 900 mil por mês para autorizar fazendeiros a entrarem na terra.

Damião Paridzané é visto pela comunidade Xavante como a principal liderança na luta pelo território indígena.

Tudo começou quando ele ainda era adolescente e, junto com quase 300 pessoas, foi retirado do território Xavante Marãiwatsédé, localizado entre os municípios de Alto Boa Vista, Bom Jesus do Araguaia e São Félix do Araguaia, e levado à Missão Salesiana de São Marcos, na aldeia que leva o mesmo o nome.

Um trabalho de pesquisa feito pelo estudante Lázaro Tserenhemmewe Tserenhitomo, na Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), em 2016, conta a história de Damião.

Em 1966, um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) fez a transferência dos xavantes para uma nova aldeia, a São Marcos. No local, Damião foi separado dos pai e permaneceu em um internato, onde permaneceu até se casar.

Depois desse período, ainda viveu 10 anos na aldeia até decidir, em 1977, ir atrás do povo de Marãiwatsédé que estava na Terra Indígena Couto Magalhães.

Conforme o estudo feito por Lázaro, entre 1979 e 1980, Damião lutou politicamente pela primeira vez junto do seu povo, tirando fazendeiros invasores da área. Depois da luta de retirada dos fazendeiros, conseguiu junto a outras lideranças a homologação da TI Parabubure.

Já em 1981, Damião Paridzané passou a ser cacique pela primeira vez e começou a viajar à cidade, principalmente para Nova Xavantina, na sede da Fundação Nacional do Índio (Funai).

No ano de 1984, ele se mudou para Terra Indígena Pimentel Barbosa, devido a um conflito entre os Xavante de Areões.

Damião Paridzané também esteve presente na Câmara dos Deputados e recebeu a notícia de que a desintrusão da Terra Indígena Marãiwatsédé foi determinada pelo Supremo Tribunal Federal, em outubro de 2012.

O cacique reivindicou junto ao Ministro da Defesa o apoio da Polícia Federal juntamente com o Exército Brasileiro e a Força Nacional. Assim, a Terra Marãiwatsédé foi declarada de ocupação tradicional

Com G1 de Mato Grosso