Criptomoedas ganham espaço no mercado e caminham para regulação

As criptomoedas ganham cada vez mais espaço no sistema financeiro. No último mês de setembro, o ativo digital tornou-se a moeda oficial em El Salvador. O caso não representa a única experiência que vai além dos investimentos.

Recentemente, algumas empresas anunciaram que irão aceitar criptomoedas como forma de pagamento. Na avaliação de analistas, as mudanças trazem alertas às instituições financeiras para a necessidade de regulação com o objetivo de viabilizar o melhor uso dos ativos nos próximos anos.

O Banco Central do Uruguai já anunciou os primeiros passos para esse processo de regulamentação das criptomoedas. No dia 1º de outubro emitiu um comunicado informando que ia promover o diálogo com as operadoras de serviços para ajudar na criação de uma regulamentação dos ativos digitais.

Na contramão desse processo está a China, que proibiu no mês de setembro todas as transações financeiras envolvendo criptomoedas. Já no mesmo período, El Salvador adotou o Bitcoin como moeda oficial.

Na avaliação de Guilherme Rebane, diretor de desenvolvimento de novos negócios da OSL, essas movimentações envolvendo os ativos digitais trazem uma revolução tecnológica para o mercado financeiro, mas para que esse processo avance de forma segura é preciso regulação.

“A partir do momento que você possui uma regulação mais clara e o propósito dessa classe de ativo, você passar a ter um entendimento melhor e de como ele pode ser utilizado”, explica.

As experiências mundiais sobre o uso desses ativos digitais têm possibilitado aos bancos centrais pensar qual é a melhor regulação para as criptomoedas. No entanto, Paulo Boghosian, responsável pelo Hub de Cripto do Trade Club, acredita que os casos de El Salvador e da China, por exemplo, não devem servir de “modelos ideais”, embora acredite que sejam experiências importantes.

“Não espero que o modelo chinês possa ser usado como base para o que vai acontecer mundialmente. Por outro lado, esse movimento de aceitar o Bitcoin como moeda nacional, como fez El Salvador, no curto prazo, irá se restringir a países pequenos com economias não muito relevantes”, afirma.

Mas será que os bancos centrais estão adiando esse processo de regulação? Os analistas ouvidos pelo E-Investidor argumentam que o projeto é complexo e por isso ocorre a demora da elaboração de uma proposta. “Quando foi a última vez que você viu o surgimento de uma nova forma de dinheiro? Trata-se de uma mudança de paradigma muito grande, e os reguladores não possuem modelos de outros ativos semelhantes”, acrescenta Boghosian, do Trade Club.

Já Rebane, da OSL, enxerga que a cautela das instituições financeiras para o desenvolvimento de uma regulação para as criptomoedas é necessária para que a proposta seja eficaz e contemple as possibilidades de uso dos ativos digitais.

“A regulação tem que acontecer, mas tem que acontecer no tempo devido. Embora o Bitcoin exista há mais de 10 anos, existe uma curva de aprendizado dos bancos centrais para entendê-lo melhor”, ressalta. 

Além disso, a burocracia também é uma das causas para a lentidão do desenvolvimento de uma regulação para os criptoativos, na avaliação de especialistas. Ao contrário da China, alguns países, principalmente os ocidentais, precisam negociar e dialogar com várias entidades antes de qualquer determinação.

“No Ocidente, em que há partes diferentes envolvidas, a gente tem mais dificuldades de entrar em um consenso. Então, essas conversas devem demorar um pouco mais para acontecer”, avalia Jennie Li, especialista em criptoativos da XP Investimentos.

Criptomoedas: nova forma de pagamento

Em julho deste ano, o Burguer King lançou um biscoito canino que pode ser pago com a criptomoeda Dogecoin. Algumas semanas depois, em agosto, a rede de cinemas AMC anunciou que até o fim deste ano os clientes irão poder pagar pipoca, refrigerante e os ingressos com Bitcoins. Esses exemplos podem se tornar mais comuns à medida que a moeda digital for mais aceita como forma de pagamento.

Thales Inada, especialista em criptoativos da Spiti, confirma essa tendência. Segundo ele, já há no mercado cartões de crédito com os quais o investidor pode realizar qualquer pagamento em lojas físicas utilizando criptomoedas. A diferença é que o consumidor deve pagar uma taxa mais “salgada”, mas a conversão do ativo digital para a moeda oficial do país é feita de forma instantânea.

“O lojista não tem tanto problema com o valor recebido, mesmo com a volatilidade. Mas para quem está pagando, aí sim. Um dia você pode ter 100 dólares e no outro pode ter 80 dólares”, explica.

Conteúdo pulicado originalmente no einvestidor.estadao.com.br