Deputado Bolsonarista causa indignação ao comparar gravidez de mulheres com prenhez de vacas
O deputado estadual Gilberto Cattani (PL) comparou a gravidez de mulheres com a gestação de vacas. A fala aconteceu durante a sessão para a criação de uma frente parlamentar para combate ao aborto, composta apenas por homens. A Comissão da Mulher da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MT) criticou a fala do deputado.
Gilberto Cattani é presidente da Comissão de Direitos Humanos, Defesa dos Direitos da Mulher, Cidadania e Amparo à Criança, ao Adolescente e ao Idoso. Durante o debate, que ocorria na Assembleia Legislativa, nesta segunda-feira (15), o deputado defendia a versão de que a vida existia desde o primeiro instante da gestação e, em sua fala, comparou mulheres a vacas.
“Quando a minha vaca entra no cio, está no período fértil e o touro “cobre” a minha vaca, é assim que a gente fala na roça, então ela está prenha. Isso é natural. Agora eu pergunto para qualquer pessoa: O que tem na barriga da minha vaca? Se você pedir para essas feministas ou essas pessoas que defendem o assassinato de bebês no ventre da sua mãe, eles vão dizer que lá tem um feto, não é um bezerro. Assim como eles falam da mulher, que dentro da barriga da mulher, até a 6ª semana, é um tipo de coisa, depois um amontoado de célula e assim por diante, que não é uma criança. Eles usam a palavra feto para desmerecer”, disse.
O site entrou em contato com a assessoria deputado estadual Gilberto Cattani (PL), que informou que o parlamentar não irá se manifestar sobre o caso.
A Comissão de Ética da ALMT informou, em nota, que não foi provocada para atuar no caso.
Já a Comissão da Mulher da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MT), se manifestou sobre as falas do deputado.
“É inacreditável a discussão com frases de baixo calão, comparando um touro cobrir uma vaca no cio, com a gestação de uma mãe cujo filho morreu na barriga ou uma criança que foi estuprada (hipóteses de aborto legal). Indigno da assembleia legislativa e indigno de mulheres e homens que pagam impostos em Mato Grosso”, diz a comissão.
A Frente Parlamentar de Combate ao Aborto “Pró-Vida” criada pelos deputados tem como objetivo convencer mulheres a manter gestações indesejadas ou não planejadas.
Fazem parte da frente parlamentar os deputados Cláudio Ferreira (PTB), Beto Dois a Um (PSB), Dilmar Dal Bosco (União), Elizeu Nascimento (PL), Faissal (Cidadania), Gilberto Cattani (PL) e Júlio Campos (União). O suplente de deputado, Alex Sandro (Republicanos), também assinou o requerimento de criação do grupo, quando esteve em exercício parlamentar.
A frente parlamentar
De acordo com o coordenador-geral da frente parlamentar, o deputado estadual Cláudio Ferreira (PTB), a ideia é estimular a criação de políticas públicas para amparar mulheres grávidas em situação de vulnerabilidade.
A procuradora do estado e presidente da comissão da mulher da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MT), Gláucia Amaral, enfatizou que o procedimento é questão de saúde pública, já que o aborto em situação de vulnerabilidade é o final de uma tragédia social.
“No momento dessa Instalação, gostaria que os deputados tivessem refletido como simbolicamente isso é forte e triste. Sermos destinatárias de decisões de políticas públicas sobre gravidez, sem participar. É um fundamento de cidadania, já não deveríamos pensar nessa comissão, e sim outra estrutura da casa legislativa que pudesse incluir mulheres como integrantes, de igual para igual”, contou.
A atriz e professora de teatro Mariana Girardello Ferreira, que também é ativista e faz peças de teatro sobre as opressões sofridas pelas mulheres, disse que deveria ter um espaço em que mulheres possam discutir sobre o assunto livremente.
“É necessário existir uma comissão formada apenas por mulheres que não pensem igual e estejam dispostas a pautar sobre saúde pública de forma democrática”, pontuou.
Aborto no Brasil
O aborto legal é um procedimento de interrupção de gestação autorizado pela legislação brasileira e que deve ser oferecido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). No Brasil, o aborto é autorizado em apenas três casos:
- Há risco de vida para a gestante;
- A gravidez é resultado de um estupro;
- O feto é anencéfalo, ou seja, não possui cérebro.
Nessas hipóteses, a gestante tem o direito de escolha pelo procedimento para interromper a gravidez ou por manter a gestação.
Embora este direito seja previsto em lei há mais de 80 anos, mulheres enfrentam dificuldade para abortar em hospitais brasileiros e precisam, às vezes, viajar mais de 1.000 quilômetros para se submeter ao procedimento de forma legal.
Com G1 de Mato Grosso