Fé e Esperança na época de Pandemia
O mundo está perplexo diante da pandemia de Covid-19.Um vírus invisível que colocou o mundo em isolamento. A pandemia não tem ideologia, raça, credo e sexo. O vírus passa deixando medo, angustia, sofrimento e morte.
O sofrimento inocente e o mundo imenso em lágrimas são a estrada mais árdua e mais séria para compreender a verdadeira realidade da fé. É nas experiências do sofrimento que emerge a pergunta sobre Deus. Na dor e no sofrimento, o crente e o ateu se perguntam pelo seu criador.
A Igreja já afirmava no Vaticano II que “uma das causas do ateísmo e do indiferentismo religioso se deve ao silêncio de Deus diante do mal e do sofrimento (Gs 19)”. Aqui se radica a origem de muitos conflitos na relação do homem com Deus, coadunando-se com o que apregoa Camus ao afirmar que não há lugar para Deus no mundo invadido pelo sofrimento do inocente (Cf. CAMUS, 1960, p. 20).
Nesse sentido, o sofrimento humano, qualquer que seja sua causa, sobretudo em situações injustas, nas quais sofre o inocente, abala nossa fé, nosso discurso teológico e, principalmente, a imagem do Deus onipotente. Em decorrência de tal realidade, perguntas e questionamentos são suscitados: por que existe a dor, se Deus nos ama? Qual o motivo de seu silêncio e impotência diante da dor? Onde Deus está nessa situação? Percebe-se que algumas respostas, na tentativa de justificar tais perguntas, causam certo mal-estar e rebeldia nas imagens de Deus que apresentam, mostram uma concepção da onipotência de Deus que resulta em apatia e insensibilidade diante do sofrimento. Nessa perspectiva, o mal expressa o desejo divino de punir a humanidade por seus muitos pecados. Assim, Deus não passa de um sádico, que se alegra com o sofrimento humano. Tal imagem alimenta e origina uma fé pouco saudável.
Para falar de Deus, em situações de sofrimento, precisamos escutar o grito de Jesus na cruz. A cruz nos apresenta Deus subcontrário, isto é, sob seu oposto: na humildade, debilidade, sofrimento e fraqueza. Na cruz de Jesus, Deus se revela, sofre e solidariza-se. O impensável aqui foi real: Deus não está ausente no sofrimento, e sim, o comparte conosco. O silêncio de Deus na cruz de Jesus não é o silêncio da indiferença e sim o silêncio de quem se faz escuta, proximidade e compaixão. Deus fala no silêncio, segue na ausência, deixa-se conhecer no ocultamento e mostra seu poder na debilidade. O Deus revelado em Jesus não é o dos filósofos gregos “incapaz de sofrer”, e sim o “Deus simpático” que é capaz de sofrer, a partir da plenitude do seu ser, isto é, do seu amor.
Um sofrimento ativo, voluntario, o sofrimento do amor. Esse sofrimento de amor leva esperança a todos aqueles que a perderam. Só um Deus que padece é capaz de se compadecer. Só um Deus que sofre é capaz de entender e comprometer-se com os sofredores. Portanto, onde vejo Deus nesta crise do Covid-19?
Veja as pegadas de Deus nas vítimas dessa pandemia, nos médicos e agentes de saúde que os atendem, nos cientistas que buscam vacinas antivírus, em todos os que nestes dias colaboram e ajudam para solucionar o problema, nos que rezam pelos demais e espalham esperança, alimentando sonhos de superação e animando o olhar para além da pandemia. Deus age muito mais do que vemos. Precisamos, portanto, purificar nossa imagem do Deus de Jesus para que não permaneçamos indiferentes nem imóveis ante o sofrimento dos outros e para que não busquemos dar explicações que levem à mera aceitação resignada do sofrimento.
Deus necessita de cada um de nós para se revelar, portanto, que nossa solidariedade seja mais forte que o egoísmo que, às vezes, nos habita. Que nossa solidariedade seja mais contagiante que o vírus. Ele sempre se revela nas mãos abertas do amar e servir!