Ministério da Saúde convocou até veterinários para atender pessoas com Covid

A pandemia do coronavírus expôs as desigualdades sociais no Brasil, afirma Alexander Biondo, professor titular de zoonoses do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Biondo está à frente do maior estudo já realizado no Brasil para investigar a Covid-19 em cães e gatos e seus desdobramentos para a saúde humana. Mas o cientista também presta assistência em testagem com indígenas, presidiários e pessoas em situação de rua.

Os veterinários foram tratar desses grupos porque a Covid-19 acentuou ainda mais a exclusão, frisa ele, que participou da testagem de moradores de rua em São Paulo e constatou que 52% já havia se contaminado. Este é o percentual mais alto do mundo em uma amostragem.

Em entrevista ao GLOBO, Biondo revela que começou a atender pessoas porque não havia quem as atendesse: “Há gente que deveria estar na linha de frente se omitiu, se escondeu”. Por isso, o Ministério da Saúde convocou médicos veterinários.

O senhor é professor de veterinária e passou a atender pessoas. Por quê?

Porque elas não tinham quem as atendesse. São indígenas, mulheres presidiárias, pessoas em situação de rua. Esses grupos já eram excluídos, e a Covid-19 acentuou a exclusão. Nesta pandemia, temos muitos exemplos maravilhosos de dedicação de profissionais de saúde, incluindo pesquisadores. Mas há gente que deveria estar na linha de frente e se omitiu, se escondeu. Então, populações que já eram marginalizadas foram abandonadas porque não houve assistência para todos. O Ministério da Saúde convocou os médicos veterinários do Brasil. Tempo de guerra, fomos acionados e respondemos. Trabalho com fauna urbana. Mas na pandemia passei a atender seres humanos. Há conexão entre a saúde humana e a de animais. Mas não foi só isso.

Com Globo.com