Nos pênaltis Fluminense bate Flamengo e é Campeão da Taça Rio

O Flamengo jogou no lixo tudo o que advogou desde que foi editada a Medida Provisória 984, que dá aos clubes o direito de negociar seus jogos como mandantes. Ao afirmar que o mando de campo da final da Taça Rio deveria ser compartilhado, cuspiu no regulamento que diz, claramente, em seu artigo 26, que haveria sorteio para definir o mandante. Na segunda-feira, o sorteio na sede da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro apontou mando para o Fluminense, exatamente como previsto na carta magna do campeonato.

Como podia, então, o Flamengo defender o direito de transmitir o jogo na FlaTV sendo ele o visitante? Só rasgando o regulamento, ou a Medida Provisória.

Da disputa nos bastidores até a decisão por pênaltis, a noite foi tricolor. Por mais que pareça natural analisar os jogos do ponto de vista da melhor equipe formada no país, não foi o Flamengo quem perdeu, mas o Fluminense quem venceu.

A estratégia definida por Odair Hellmann na véspera foi cumprida fielmente no primeiro tempo. Evanílson poderia ser a opção de velocidade, mas o que o treinador queria mesmo era cuidar do passe. Errar pouco e sair com toques curtos da defesa para o ataque, para impedir o Flamengo de exercer a pressão de que tanto gosta para recuperar a bola logo depois de perdê-la.

O Fluminense, então, cuidou da bola como de um diamante. Tirou velocidade da partida e cadenciou. Em alguns momentos, irritou, por desperdiçar chances de contra-ataque. Essas oportunidades em velocidade poderiam também significar o risco maior de entregar o passe nos pés de um rubro-negro e ter de correr atrás do melhor time do Brasil.

O primeiro tempo deu certo e Gilberto marcou numa cobrança pelo alto. Dos 13 gols sofridos pelos rubro-negros neste ano, 30% foram frutos de jogo aéreo. Dos 33 anotados pelo Fluminense, 18% nasceram assim.

Na segunda etapa, a cara da partida mudou. O Flamengo recuperou mais vezes no campo de ataque, fosse pela pressão mais bem executada, fosse pelo maior volume de passes errados do Fluminense. Resultado foi que a defesa tricolor correu muito mais atrás dos atacantes rubro-negros e isto se evidenciou no cansaço do Flu nos minutos finais. O Flamengo poderia ter feito 2 x 1.

Não fez. Restou a decisão por pênaltis, de novo com favoritismo rubro-negro, porque Diego Alves é melhor goleiro do que Muriel. Pois não é que Muriel lembrou Paulo Goulart na histórica final da Taça Guanabara de 1980, que consagrou o goleiro e o canto da torcida para o Papa João Paulo II — “A Bênção, João de Deus”.

Muriel defendeu as cobranças de William Arão e de Rafinha e deu ao Fluminense sua quarta Taça Rio.

Apesar de o técnico do Flamengo dizer, com enorme sabedoria, que Fla-Flu não tem favorito — é o ai Jesus — é óbvio que os rubro-negros caminham para a decisão do campeonato com vantagem por possuírem um time superior. Também por terem entendido a estratégia do Fluminense no primeiro dos três jogos. Não vai ser fácil para Odair Hellmann repetir o estilo e sair vencedor. Nem mesmo empatando mais duas vezes, para tentar o troféu nos pênaltis de novo.

Talvez tenha sido apenas uma noite gloriosa do Fluminense e o Flamengo comemore na próxima quarta-feira. Talvez possa festejar não apenas o troféu, como também a transmissão da Fla TV, aí sim como mandante.

Isto porque o regulamento — ora, o regulamento — prevê no artigo 28 que o time de maior pontuação tem o direito de escolher se manda a primeira ou a segunda partida decisiva. O Flamengo optou pela segunda e certamente não alegará que, por ser finalíssima, o mando de campo deveria ser compartilhado.

Não, não deveria.

Pela força do Flamengo, nem o jogo deveria ser tão equilibrado.

Por PVC do Globo Esporte.com