Número de catadores em aterro sanitário mais que dobra e trabalhadores disputam materiais
O desemprego e a falta de auxílio fez o número de catadores no Aterro Sanitário de Cuiabá mais que dobrar durante a pandemia. Há um ano eram 100 trabalhadores no local. Agora já são mais de 250, segundo o Movimento dos Catadores de Materiais Recicláveis.
O líder do movimento em Mato Grosso, Thiago Duarte, contou ao G1 que os materiais têm sido muito disputados entre as famílias.
“O material está disputado, pois aumentou muito o número de pessoas. Cada dia chegam mais famílias. Até o papelão, que antes era recolhido por cooperativas, está sendo pego pelos trabalhadores. As pessoas estão pegando tudo que é reciclável para não passar fome”, relatou.
Thiago disse que o fluxo de pessoas no local teve um aumento maior após o fim do pagamento do auxílio emergencial, em dezembro do ano passado.
O benefício voltou a ser pago somente em março deste ano, após o Congresso Nacional autorizar o governo federal a realizar novos pagamentos. No entanto, as parcelas que antes eram de R$ 600 e R$ 1,2 mil, passaram a variar entre R$ 150 e R$ 375, conforme o perfil de quem recebe. Atualmente, o valor médio é de R$ 250.
De acordo com o Movimento, a maioria dos catadores trabalham em família ou buscam os recicláveis sozinhos para sustentar filhos e parentes que dependem deles.
“Hoje o que nos salva por lá são os grupos que fazem ações sociais com a doação de cestas e de marmitas durante o almoço. Dependemos muito dessas pessoas para amenizar um pouco a situação”, disse.
Não há divisão por área de trabalho no local, segundo Thiago.
O Aterro Sanitário em Cuiabá recebe o lixo de toda a capital e o desejo da prefeitura é que o local seja extinto, como prevê a Política Nacional de Resíduos Sólidos. O programa obriga os municípios a providenciarem a destinação correta do lixo produzido pela população, mas isso ainda não aconteceu.
Em Cuiabá, são coletadas diariamente uma média de 400 a 700 toneladas de lixo, inclusive do Rio Cuiabá, por meio das balsas ecológicas. Todos os resíduos são encaminhados para o aterro ou para quatro cooperativas que são conveniadas com a prefeitura.
Ajuda
Desde o início da pandemia, a Secretaria Municipal de Assistência Social tem doado cerca de 150 marmitas por dia aos trabalhadores do aterro. Voluntários de igrejas e associações também fazem doações de cestas básicas, mas, apesar disso, as famílias que trabalham no local continuam passando por dificuldades.
“Tem pais que trabalham lá que têm até 10 filhos, então o que recebemos hoje ajuda aliviar, mas uma cesta básica, por exemplo, não dura muito em uma casa que tem a família grande. Como nosso trabalho não é formal, as grandes instituições acabam não conseguindo doar e isso dificulta”, ressaltou o líder do grupo.
Em abril deste ano, a Defensoria Pública de Mato Grosso, por meio do Grupo de Atuação Estratégica em Direitos Coletivos (Gaedic) em defesa dos Catadores de Materiais Recicláveis, enviou um ofício recomendatório à prefeitura de Cuiabá para que o município providencie um auxílio emergencial no valor mínimo mensal de R$ 500 por três meses, além de materiais de biossegurança e distribuição de cestas básicas.
O objetivo é garantir a subsistência e a segurança dos catadores. As medidas, conforme o ofício, devem ser aplicadas em caráter de urgência no enfrentamento à pandemia da Covid-19.
Outros órgãos, como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MT) e Ministério Público Estadual (MP-MT) reforçaram o pedido ao município.
Com G1 de Mato Grosso