O sobe e desce da eleição no Congresso: Veja quem sobe e quem desce.

A eleição de Arthur Lira (PP-AL) para a presidência da Câmara e de Rodrigo Pacheco (DEM-MG) para o comando do Senado representa, a partir desta terça-feira, uma mudança no equilíbrio das forças políticas envolvidas na disputa de poder no Congresso. Além dos dois candidatos vitoriosos, o cenário é positivo para o presidente Jair Bolsonaro e também para Davi Alcolumbre (DEM-AP), que foram vitoriosos em suas indicações. O centrão, fiador de ambas as candidaturas eleitas, também é grande beneficiado pelo resultado.

Na contramão, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), vivem dilemas partidários após terem falhado na tentativa de emplacar Baleia Rossi (MDB-SP) como antídoto ao bolsonarismo. Também sofreram reveses a oposição e os defensores de uma “nova política” no Legislativo.

Arthur Lira, o novo presidente da Câmara chegou à eleição não só com o apoio do Palácio do Planalto, publicamente assumido por Bolsonaro. Lira também foi carregado por partidos do centrão, do qual faz parte, e por filiados de outras siglas, incluindo as que compuseram o bloco de Baleia Rossi.

Conhecido como um “cumpridor de acordos”, o deputado, ao lado de aliados, comprovou a habilidade para negociar votos, até mesmo em causa própria. Ao inviabilizar o apoio do DEM de Rodrigo Maia a Baleia Rossi, acabou esvaziando os últimos momentos do antecessor no cargo e abriu caminho para as conquistas do próprio mandato. Ele fica no cargo até fevereiro de 2023.

Rodrigo Pacheco, unindo o apoio do bolsonarismo e do PT, forças opostas do espectro político, o recém-eleito presidente do Senado criou uma coalização inexistente na vitória de Acolumbre, seu antecessor, há dois anos. Pacheco, que está no primeiro mandato como senador, superou por ampla diferença a adversária, Simone Tebet (MDB-MS), e, antes disso, já havia articulado, junto com Alcolumbre, um acordo que custou à senadora o apoio do próprio partido. Assim como Lira, ele também permanece no cargo até fevereiro de 2023.

De saída do comando do Senado, Alcolumbre emplacou Pacheco como sucessor após tê-lo apresentado a Bolsonaro e participado ativamente dos acordos que garantiram a vitória na eleição. Ainda que possa não conquistar um ministério no governo federal, conforme o plano que relatou a aliados antes de o presidente negar publicamente, Alcolumbre deixa o cargo reconhecido como um parlamentar capaz de conciliar interesses, como fez com os do governo e da oposição, e pode manter atuação expressiva na Casa. Colegas cogitam que ele pode presidir colegiados como a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), uma das mais relevantes.

Na esteira de Lira e Pacheco, partidos do Centrão encerraram a eleição em alta. Siglas como PP, PL, Republicanos, Solidariedade, PSD, PSC, Avante, Patriota e PTB estiveram formalmente apoiando Lira na Câmara — ele é líder do grupo — e parte deles, com representação no Senado, também esteve com Pacheco. Ao votar de acordo com os próprios interesses e ainda dialogar com as intenções do Planalto, parlamentares do grupo seguirão com capital político para barganhar em votação relevantes para o governo e serão beneficiados com cargos e emendas nos próximos meses, fruto da negociação nos bastidores da eleição. A reforma ministerial que se aproxima também deve garantir o comando de pastas relevantes, como a Cidadania.

Rodrigo Maia, sem ter conseguido aval do Supremo Tribunal Federal (STF) para se reeleger e com dificuldade para angariar apoios à candidatura de Baleia Rossi, Maia deixou o comando da Câmara após dias de conflito público com figuras do governo e uma crise com o DEM, seu próprio partido.

O ex-presidente da Câmara chegou a discutir ao telefone com o ministro-chefe da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, responsável pela articulação política de Bolsonaro. No momento mais crítico, viu Baleia perder o apoio do DEM na véspera da eleição e chegou a ameaçar um rompimento com a sigla numa celeuma que segue sem solução e pode afetar outros quadros. A derrota também pode prejudicar a articulação de Maia para uma frente anti- Bolsonaro em 2022.

João Doria, embora tenha se esforçado para manter o PSDB no bloco de apoio a Baleia, a possibilidade de que uma reviravolta acontecesse, na última hora, demonstrou que o governador de São Paulo ainda enfrenta resistência em suas tentativas de influenciar nacionalmente as posições tucanas. Episódios anteriores já tinham demonstrado essa dificuldade: foi o caso, por exemplo, da tentativa frustrada do grupo de Doria de expulsar o deputado Aécio Neves do partido, em 2019.