Operação policial com 25 mortos é a mais letal da história do Rio de Janeiro

A operação policial nesta quinta-feira (06/05) na favela do Jacarezinho, na zona norte do Rio de Janeiro, é a mais letal da história do estado desde o início do período democrático. A ação deixou pelo menos 25 mortos, entre estes, um policial.

Horas depois da operação, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), marcou para o dia 21 deste mês o julgamento sobre a elaboração do plano de redução da letalidade policial.

O levantamento sobre o recorde de mortes resultantes de uma ação da polícia foi divulgado pelo Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni-UFF). Segundo o grupo, jamais uma única operação de segurança resultou em uma quantidade de óbitos superior à desta quinta-feira.

O Geni-UFF, que compila dados sobre mortes em operações da polícia desde 1989, revelou que o saldo do Jacarezinho é comparável somente às chacinas de Vigário Geral, que deixou 21 mortos em 1993, e da Baixada Fluminense, em 2005, que resultou em 29 mortes.

Esses dois episódios, porém, ocorreram em “operações extralegais”, ou seja, de maneira clandestina, através de grupos de extermínio, e não em operações policiais oficiais, segundo afirmou o coordenador do Geni-UFF, Daniel Hirata.

A ação da Polícia Civil ocorreu após denúncia sobre um suposto aliciamento de menores e sequestro de trens ferroviários da empresa SuperVia pelo Comando Vermelho, a maior facção do tráfico de drogas no estado do Rio de Janeiro.

A Polícia Civil disse que traficantes do Comando Vermelho, alvos da operação em Jacarezinho, aliciam crianças e adolescentes, além de praticarem também roubo de cargas, assaltos. homicídios e sequestros. O grupo já realizou dois sequestros de trens da SuperVia; em dezembro de 2020 e no mês de abril deste ano.

O delegado Rodrigo Oliveira, subsecretário de Planejamento e Integração Operacional da Polícia Civil, assegurou que as exigências do STF foram respeitadas na operação no Jacarezinho. Ele criticou os entraves às operações policiais impostos pela decisão de Fachin.

“De um tempo para cá, por conta de algumas decisões e um ativismo judicial que se viu muito latente na discussão social, fomos de alguma forma impedidos ou foi dificultada a ação da polícia em algumas localidades”, afirmou. “O resultado disso nada mais é do que o fortalecimento do tráfico.”

A organização de direitos humanos Human Rights Watch pediu uma investigação “minuciosa e independente” sobre a operação. Segundo a ONG, o Ministério Público do Rio tem “obrigação constitucional” de assegurar investigações criminais adequadas sobre possíveis abusos policiais.