São Paulo é campeão com suor de renegados e acha caminho após desaprender a ganhar
O goleiro que foi reserva a carreira inteira. O lateral-direito veterano que vinha de um rebaixamento. Um zagueiro visto sempre com desconfiança. Um lateral-esquerdo que nem na posição jogava.
Um volante que era atacante de beirada e colecionou xingamentos da própria torcida. Um meia de carreira discreta, outro quase sempre usado como bode expiatório. Um centroavante sem conquistas.
Somam-se a eles dois meninos e um ídolo que voltou da Europa e temos o mais novo campeão da Copa do Brasil. Campeão? Sim, a descrição totalmente simplificada nem parece ser de um time vencedor, mas só comprova que há muitas maneiras de ganhar um título, mas uma forma bem errada de como não fazer.
O São Paulo, este mesmo que acaba de ganhar a primeira Copa do Brasil de sua história, sofreu por anos na tentativa de (re)encontrar um caminho. E, nessa perseguição interminável, só aprendeu a como não formar um time campeão.
Na década que se passou, na mão de várias diretorias diferentes, o São Paulo usou ídolos como escudos, rifou talentos que ele próprio formou, gastou dinheiro que não tinha em estrelas, empilhou treinadores de personalidades, currículos e visões totalmente diferentes e, assim, chegou a lugar nenhum.
Por que? Hoje parece fácil dizer, mas a resposta mais precisa possível é a falta de convicção. O São Paulo cansou de andar na contramão do sucesso por não ter a paciência necessária de fazer fluir um trabalho corretamente. Na ânsia de voltar a ser protagonista, virou coadjuvante – às vezes nem isso.
Teve que aprender na dor. E, da dor, ganhou casca para fazer a festa que a cidade de São Paulo, não apenas as cercanias do Morumbi, viveu ao longo de domingo.
A conquista da Copa do Brasil nada mais é do que uma consequência de um time que foi formado nas cicatrizes de derrotas pesadas, em eliminações duras e na capacidade de tirar o melhor de um time que não é o melhor, mas que compete com os que no papel são superiores a ele.
Tudo está resolvido? Longe disso. As dívidas ainda são imensas, há problemas políticos que nenhum troféu pode esconder e alguns que talvez nem merecessem um título desse tamanho. Mas os que merecem são mais numerosos.
Um deles está no banco. Dorival Júnior não ganha pontos por idealismo. Faz o melhor que pode com o que tem. O que tem em mãos não é digno de inveja – afinal, poucos queriam tal material humano há alguns meses. Mas vale bem mais a motivação de quem precisa provar algo do que a barriga cheia de quem, pelo visto, cansou de ganhar.
O São Paulo não tinha direito de cansar de algo que há tempos não fazia. Agora, quem sabe tenha se recolocado no rumo correto. Depois de errar tanto, foi apostando naqueles que ninguém apostaria que deu a volta por cima.
O clube já sabe o que fazer para não ganhar. Agora, entendeu um caminho para ser campeão.