Trabalhadores são resgatados onde viviam em meio a fezes
Onze trabalhadores foram resgatados de condições análogas a de escravos, em duas fazendas em Itaúba e Guarantã do Norte, no Norte de Mato Grosso. Parte deles vivia em um curral ainda em uso para manejo de gado.
O resgate foi feito em uma operação do Ministério Público do Trabalho (MPT), em parceria com a Polícia Federal, realizada entre os dias 8 e 16 deste mês.
Os trabalhadores eram submetidos à jornada exaustiva e com condições precárias de higiene. Todos os resgatados estavam na informalidade.
Um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) foi assinado com os empregadores e os trabalhares foram enviados de volta para suas cidades de origem. Os ‘patrões’ se comprometeram a não repetirem o crime.
No resgate de Guarantã do Norte, seis trabalhadores foram levados da fazenda. Segundo o MPT, a força-tarefa constatou que as vítimas estavam construindo um silo para o armazenamento de grãos.
As condições de segurança, saúde e higiene nos locais de trabalho e no alojamento da fazenda eram precárias.
Antes de serem mandados para o curral, os trabalhadores resgatados ficaram alguns dias em uma casa suja, infestada de pulgas, na companhia de morcegos.
No curral, a equipe de fiscalização verificou que o piso era de madeira e que havia um brete, corredor de passagem do gado para ser marcado e vacinado, com fezes dos animais.
Por esse brete também passavam os trabalhadores quando iam preparar suas refeições, que eram consumidas em bancos de madeira, com os pratos nas mãos ou apoiados no colo, segundo a fiscalização.
A água consumida não era filtrada e que para dormir, alguns trabalhadores improvisavam redes e paletes em cima do brete.
Já em Itaúba, foram encontrados outros cinco trabalhadores envolvidos na coleta de raízes, etapa de preparação do solo para plantio de soja, em uma fazenda onde anteriormente se explorava a pecuária.
Segundo o MPT, os trabalhadores eram do Maranhão, do município de Lago da Pedra. O grupo, que já retornou para o seu estado de origem, estava submetido a condições degradantes de trabalho e à jornada exaustiva.
Os trabalhadores disseram à fiscalização que inicialmente os trabalhadores chegaram a ficar alojados na mata, em um barraco feito de galhos e coberto por lona plástica, sendo depois instalados em um barraco de madeira utilizado como galinheiro próximo à sede da fazenda, com piso de chão batido e paredes laterais improvisadas com lona, sem porta, com uma espécie de “varanda” onde se podia armar as redes, já que camas ou colchões não foram disponibilizados.
Segundo o MPT, também foi constatada a submissão à jornada exaustiva: um dos trabalhadores iniciou seu labor às 5h da manhã e o terminou às 20h30.
Além da extensão das jornadas diárias e do trabalho árduo exercido, também foi verificado que não eram concedidas folgas a cada sete dias de trabalho e, ainda, que os dias não trabalhados deixavam de ser remunerados pelo empregador, mesmo quando o afastamento se dava por razões de saúde.
Ao MPT, um dos trabalhadores resgatados disse que pegou leishmaniose, doença parasitária que está associada à desnutrição, deslocamento de população ou condições precárias de habitação e saneamento. Quando, por conta própria, decidiu procurar um médico, foi orientado a afastar-se das atividades por 25 dias, período em que não trabalhou, mas também nada recebeu.
Os alojamentos foram interditados pelo MPT e pela polícia. Os trabalhadores receberão um salário-mínimo por três meses de seguro-desemprego.