Dia Nacional do Diabetes: Mudança de vida e a dificuldade para conseguir os medicamentos

O Dia Mundial do Diabetes, nesta segunda-feira (14/11), uma doença silenciosa que pode trazer graves sequelas, se o tratamento é interrompido, pode provocar cegueira e até a amputação de membros, mas quando monitorada e tratada corretamente, o paciente pode levar uma vida dentro da normalidade.

Receber o diagnóstico não é fácil. A administradora Lígia Cristina dos Santos relata que chorou quando viu o resultado dos exames.

“Fazia muito xixi, minha vista ficou ruim então procurei um oftalmologista. Ele disse ‘seu grau zerou, você vai precisar fazer um exame de glicemia para ver o que aconteceu’ e não teve outra: estava em 290, em jejum. Já estava diabética”, conta.

O diabetes é um conjunto de doenças metabólicas, caracterizada pela hiperglicemia, que leva a sintomas clássicos como aumento na frequência urinária, sede excessiva e aumento do apetite associado à perda de peso.

Apesar de ser uma doença que não tem cura, o diabetes tem tratamento. É o que explica o endocrinologista, Marcelo Maia.

“Os principais tipos de insulina dependente aparece na infância e na adolescência. Isso também depende da genética. Já a diabetes tipo 2 aparece acima dos 40 anos associado à obesidade e ao sedentarismo”, explica.

De acordo com a Federação Internacional de Diabetes (IDF), em 2021 cerca de 15,7 milhões de brasileiros viviam com a doença, o que representa um crescimento de 3,3 milhões em 10 anos.

Conforme projetado pela federação, até 2030 o Brasil terá 19,2 milhões de pessoas com diabetes e em 2045, mais de 23 milhões de pessoas diagnosticadas com a doença.

Em Mato Grosso, o acolhimento de pacientes diabéticos é realizado pela Associação Mato-grossense de Atenção ao Diabético (Amad).

“Na maioria das vezes as pessoas chegam até nós com muita falta de informação. Ficou diabética e não sabe a quem procurar. O grupo dá acolhimento, explica o que pode comer ou não, o pessoal reclama de falta de medicação, falta de fita”, conta a presidente da associação, Lívia Baptistão.

O filho da nutricionista Andreia Krüger foi diagnosticado com o diabetes aos 2 anos. Hoje, ele tem 12. Sem muita informação na época, ela decidiu estudar nutrição para ajudá-lo e desde então passou a trabalhar na área.

Andreia explica quais são os pilares essenciais para o paciente ter qualidade de vida.

“São 3 pilares, como alimentação, exercício físico e psicológico. Nós precisamos ter esses aliados. Selecionar os alimentos que vai estar levando para casa, para o consumo diário, fazer as pazes com a cozinha”, ressalta.

A aposentada, Ruth de Souza, de 67 anos, tem pressão alta, colesterol alterado e diabetes. Ela toma remédio de uso contínuo para as três doenças.

O problema é que ela não tem encontrado na rede pública o medicamento para diabetes. O jeito para não parar o tratamento é contar com a ajuda dos filhos para comprar duas caixas por mês, cada uma sai por R$ 50.

“Não to conseguindo fazer pedido, mas não tá chegando no posto. Dá tontura, me dá dor de cabeça, tenho que ir para a UPA. Tenho medo de usar insulina, não preciso ainda, está controlado com remédio, mas eu tenho muito medo, já tenho problema de vista. Quando eu não posso, um filho compra uma caixa, outro compra outra caixa e assim vamos nos virando. Ficar sem eu não posso de jeito nenhum, risco de subir muito e ter um desmaio”, ressalta Ruth.

A aposentada está certa. De acordo com o endocrinologista, Marcelo Maia, interromper o tratamento pode trazer sérias consequências.

“A falta de medicamentos pode levar graves complicações crônicas como cegueira, insuficiência renal crônica, aumenta risco de infarto, Acidente Vascular Cerebral (AVC), amputação de membros, além de doenças degenerativas como Alzheimer e Parkinson envolvidas no mal controle da diabetes. Alimentação e atividade física são importantíssimas para a prevenção dessas doenças”, explica.

Sabendo disso, Ruth conta que liga para a ouvidoria da prefeitura de Várzea Grande, região metropolitana, todos os dias para fazer reclamação, mas ninguém atende. Segundo ela, a ligação chama até cair.

“Me sinto muito mal. O preço que estão as coisas e ter que comprar remédio. O governo tem que comprar, pela lógica não poderia faltar, porque é de uso contínuo. Eles tem que ter um planejamento melhor. Liga na ouvidoria e ninguém atende, toca até cair. Tem 0800 e ouvidoria, reclamar de que jeito se não atende”, desabafa.

Quem consegue fazer o tratamento certinho explica que é possível levar uma vida normal.

Em resposta à Ruth, que reclama da falta de “gliclazida” e de fita, o secretário de saúde de Várzea Grande, Gonçalo Barros afirmou que o consumo de medicamentos está muito alto no município e admitiu que há dificuldade para repor alguns itens em razão de fornecedores não estarem conseguindo atender toda a demanda, mas que desconhece que haja desabastecimento total.

“Conheço pessoas que tiveram que amputar dedos porque, por falta de cuidados e não querer fazer uma alimentação saudável. Tem 9 anos que sou diabética, a gente tem que ter consciência do que a gente come”, relata Lígia.

Ela destaca ainda que a alimentação para quem vive com a doença, não é cara.

“Você pode comer verduras e legumes. Isso vai te deixar saudável, vai ficar saciado. Tenho pessoas da família que tem a vista comprometida, eu não quero isso pra mim. A hemodiálise é difícil, o pâncreas pode entrar em falência ao ponto de não trabalhar mais”, reforça.

Com G1 de Mato Grosso