Pastor usa igreja para aplicar golpe milionário de pirâmide Financeira

Uma investigação que começou no ano passado com a apreensão de esmeraldas ilegais em Dourados, em Mato Grosso do Sul, revelou uma pirâmide financeira, que já afetou 1,3 milhão de investidores em mais de 80 países e causou prejuízos de R$ 4,1 bilhões.

Os componentes do esquema incluem uso de criptomoedas, ostentação nas redes sociais, com uso de iPhones de ouro e aviões fretados para viagens internacionais, e promessas de ganhos rápidos e estratosféricos.

Os números da operação La Casa de Papel, deflagrada na quarta-feira pela Polícia Federal (PF), evidenciam a magnitude do esquema. Foram apreendidos 25 carros de luxo, duas lanchas e 150 cabeças de gado.

Também foram apreendidos 20 imóveis em áreas urbanas e rurais, que incluem uma mina de esmeraldas em Campos Verdes, Goiás, e escritórios na Avenida Faria Lima, em São Paulo, além de pacotes de esmeraldas, pingentes no formato da logomarca do Bitcoin, dinheiro e relógios.

Participação de igreja

Detido no Rio, o sexto alvo do mandado de prisão preventiva é o pastor Ivonélio Abrahão, pai de Patrick Abrahão, que desde 2014 é presidente da Igreja Ministério Internacional Restaurando as Nações (MIRN), que tem sede em Belford Roxo e filial em Alagoas.

Segundo a PF, a igreja era usada junto com uma rede de empresas de fachada, contas pessoais e de parentes para movimentar o dinheiro proveniente do esquema. Só a igreja teria movimentado mais de R$ 15 milhões, além de ter sido usada para ocultação e lavagem de dos recursos.

Com quase cem mil seguidores no Instagram, o pastor Ivonélio Abrahão, que se apresenta como “Apóstolo Abrahão”, posa diante de uma Lamborghini, com a legenda: “Andar de Porsche é muito bom, mais (sic) andar de Lamborghini não tem preço”.

Acusado de ser um dos chefes do esquema de pirâmide, o empresário Diego Chaves, CEO da Trust Investing, levava vida de luxo nas redes sociais. No Instagram, há registros dele em locais como Veneza, na Itália, além de motos e carros caros e jatinhos.

Chaves incluía nas legendas mensagens que mesclam auto-ajuda com a persuasão que usava na hora de angariar investidores.

A operação da PF é o desfecho de investigação que começou no ano passado, quando Cláudio Barbosa e Fabiano Lorite foram presos pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) enquanto dirigiam rumo à cidade de Coronel Sapucaia, na fronteira entre Mato Grosso do Sul e o Paraguai.

Os policiais encontraram no porta-malas mais de R$ 500 mil em esmeraldas com nota fiscal considerada “inidônea”. Ambos foram presos por falsidade ideológica.

Os empresários poderão ser denunciados por crimes contra o sistema financeiro nacional, evasão de divisas, lavagem de dinheiro, usurpação de bens públicos, crime ambiental e estelionato.

Procuradas, as defesas dos investigados não se pronunciaram até o fechamento desta edição.

O que é a pirâmide financeira?

A pirâmide financeira é um esquema comercial insustentável, no qual a principal receita é a remuneração pela indicação de novos integrantes. Isso acontece por meio de uma taxa de entrada no negócio ou investimento inicial. Os investidores são atraídos por promessas de ganhos altos no curto prazo.

— Existe uma retroalimentação. A pessoa que investe R$ 20 é obrigada a levar outras duas, que também invistam esse valor. Então, R$ 10 de cada uma são usados para remunerar quem está no topo — explica o criminalista especializado em Direito Penal Empresarial, Thiago Nicolai, do DSA Advogados. — O dinheiro dos novos entrantes é consumido. Tem sempre um buraco na base da pirâmide. Se todo mundo resolver sacar, o negócio quebra.

O advogado avalia que muitas pessoas caem em golpes relacionados a criptomoedas porque o assunto ainda é pouco conhecido:

— O ganho acaba sendo uma maquiagem feita com dinheiro dos novos entrantes.

*Colaborou Letycia Cardoso