Vigilante que fez delação, diz ter ganho até R$ 7 mil de PMs por confronto

Depoimento do vigilante Ruiter Cândido da Silva, que resultou na deflagração da Operação Simulacrum, aponta que o delator ganhou até R$ 7 mil por confronto forjado entre policiais militares e suspeitos.

Ao Ministério Público de Mato Grosso, no dia 11 de agosto de 2021, o vigilante revelou que articulou junto a militares ações que culminaram no extermínio de dezenas de pessoas entre 2017 e o ano passado.

Em seu depoimento, o vigilante contou que sempre recebia após os supostos confrontos falsos. Quando não ganhava dinheiro, Ruiter foi beneficiado com um carro, viagem e até Carteira Nacional de Habilitação.

Ao todo, segundo o depoimento, o relator participou ativamente da cooptação de suspeitos que acabaram mortos em 5 supostos confrontos forjados. As execuções foram realizadas entre os anos de 2017 e 2020 em Cuiabá e Várzea Grande.

Aos promotores de Justiça Samuel Frungilo e Vinícius Gahiva, o vigilante contou que o valor para o repasse de informações aos policiais variava entre R$ 700 e R$ 7000, além dos outros benefícios. Contudo, não detalhou quanto ganhou em cada ação específica.

Modus operandi

Ruiter disse aos promotores e aos delegados Marcel de Oliveira e Olímpio da Cunha que todo o suposto esquema teve início quando foi roubada a casa de seu sogro – irmão do coronel Esnaldo.

Na época, Esnaldo teria solicitado a ajuda do vigilante para pegar os bandidos, uma vez que Ruiter teria contato com bandidos. Em contato com um soldado da Inteligência do 24º Batalhão, Ruiter teria começado a passar as informações para a polícia.

O esquema era baseado na capilaridade que Ruiter tinha entre os criminosos. Ele sinalizava um esquema ilegal, atraía suspeitos para as supostas emboscadas e depois fugia sem participar diretamente da execução, que ficava a cargo dos militares.

A “fórmula” adotada pelo grupo foi reproduzida em todas as 5 situações narradas pelo delator. Ao longo de seu depoimento, a única variação registrada foi quanto à cidade em que os crimes eram cometidos.

Em uma das supostas emboscadas, Ruiter revelou que o local afastado escolhido para a emboscada mudou de Cuiabá para Várzea Grande. A troca de localidade teria se dado pelo fato de que as ações policiais já estariam muito expostas na Capital, levantando suspeitas.

Ganho de cá, ganha de lá

Além dos benefícios que teve na cooperação, o vigilante revelou que as execuções também favoreciam diretamente aos policiais envolvidos. Segundo ele, os militares ganhavam desde promoções em cursos da corporação até moções de aplausos pelos assassinatos.

De acordo com Ruiter, toda vez que um suposto confronto terminava com a execução dos suspeitos os policiais envolvidos eram beneficiados. Isso fazia com que os agentes se destacassem, rendendo benefícios inclusive para as unidades especiais nas quais estavam lotados.

Operação Simulacrum

Deflagrada na manhã de quinta-feira (31), a Operação Simulacrum cumpriu 115 mandados judiciais – sendo 81 de prisão e 34 de apreensão – contra policiais militares. As prisões se deram baseadas “provas robustas” de que os agentes da segurança pública teriam forjado confrontos policiais para execução de suspeitos.  

Os assassinatos, segundo informações da decisão que baseou a operação, teriam sido realizados com o intuito de benefícios pessoas dos militares, incluindo promoções de cargo, assim como para os batalhões aos quais estavam lotados.  

Os crimes detalhados na operação ocorreram entre 2017 e 2020, tanto em Cuiabá quanto em Várzea Grande. Ao todo, 64 policiais foram presos na ação, que ocorreu após depoimento de Ruiter prestado ao MPMT.

Com Gazeta Digital